O pente é um objeto de uso quotidiano cujo nome deriva da palavra latina ‘pécten’, que designa um molusco marinho com uma concha com saliências semelhantes aos dentes dos pentes, e que se crê terá sido usado para alisar os cabelos antes de se produzirem artefactos para este fim. Os pentes mais antigos que se conhecem tem cerca de 6000 anos e são de origem egípcia, ostentando cabos ornamentados com figuras de animais e humanas.
Trazido de Angola, cerca de 1918, por Joaquim Corte-Real e Amaral, um pedagogo, político e intelectual açoriano, o exemplar em destaque integra presentemente a exposição “Coleções e Museus: da Curiosidade ao Conhecimento”, patente na Sala Dacosta até 21 de fevereiro. Pentes como este, esculpidos em madeira, com profundidade e estrutura semelhante à da mão, pela beleza e qualidade da ornamentação dos seus cabos, além de constituírem expressões do estatuto e filiação tribal são manifestações da estética africana cuja influência é bem visível nas vanguardas modernistas.
Em África, o penteado sempre teve uma forte dimensão simbólica, indiciando ainda, em determinadas comunidades, a identidade étnica, a região geográfica, o estado civil e a classe social do individuo. Não é, pois, fortuita a dimensão icónica assumida pelo pente-garfo com o cabo em forma de punho cerrado e o símbolo da paz, criado por Anthony Romani, em 1972, exibido orgulhosamente preso nos cabelos ou no bolso traseiro das calças, pelos ativistas do Movimento dos Diretos Civis, que marcaram a sociedade todos os continentes, com especial incidência para a América do Norte, na segunda metade do século passado.
