Prata Cifka

Em Portugal, em meados do século XIX, começou a assistir-se a uma certa inflexão no gosto pela cerâmica.
Com a vinda para Portugal de D. Fernando II, o príncipe alemão que casou com a rainha D. Maria II (…), a produção cerâmica ganhou novo alento, ainda que, numa primeira fase, se restringisse a um círculo fechado da aristocracia de Corte. De entre os vultos que integraram este círculo de que o próprio rei fazia parte, destacou-se a figura de Wenceslau Cifka, autor prolífico de uma produção erudita, que integrava elementos da sua coleção de gravuras antigas, e onde a paleta a aproximava da porcelana. Muitas destas peças foram executadas na fábrica instalada no antigo convento de Nossa Senhora dos Remédios, às Janelas Verdes, em Lisboa, nome pelo qual ficou conhecida entre 1836 e 1842, até que, com novo proprietário, assumiu o nome de Fábrica Constância.” Deste período, é o grande prato “Galatea”, pertencente à coleção de Artes Decorativas do Museu de Angra do Heroísmo, que apresenta o fundo preenchido por uma composição decorativa de inspiração clássica, que evidencia o domínio técnico do artista da representação do nu feminino. Galateia, na mitologia grega, é uma nereida, filha das divindades aquáticas Nereu e Dóris, que se deslocava pelos mares da Sicília, numa carruagem puxada por golfinhos. A sua beleza despertou a paixão do ciclope Polifemo, que, enfurecido pelos ciúmes, lhe esmagou o amante Ácis, acertando-lhe com um rochedo. Galateia fez reviver o amado, convertendo-o num rio e lançando-se de seguidas às ondas do mar, onde este desaguava, de forma a que a sua união se tornasse eterna.

Fonte citada | “A Cerâmica Europeia dos Séculos XVII a XIX”, Alexandre Pais, Museu de Angra do Heroísmo, 2010

Texto: Ana Almeida