Este livro de orações em hebreu, da autoria de Mimom Abohbot, foi redigido em Angra, no século XIX, documentando o retorno de famílias judaicas aos Açores por razões de natureza comercial e a sua progressiva inserção social. Mimom Abohbot, de origem marroquina, foi um comerciante importante e uma figura socialmente respeitada, não só pelos seus companheiros de fé, mas pela generalidade dos angrenses. Em 1835, na sequência da arrematação de bens nacionais dos extintos conventos, adquiriu, segundo Pedro de Merelim, na obra “Hebraicos na Ilha Terceira”, “a parte correspondente ao antigo Mosteiro da Esperança, na Rua da Sé, que remodelou e reconstruiu”, instalando lá a sua residência em que estabeleceu uma sinagoga denominada “Árvore da Vida”.
“Tefillat Yesharim” significa “A Oração dos Justos”, mais exatamente “A Oração dos que seguem o caminho direito”. O título tem a sua origem no Antigo Testamento, Livro dos Provérbios, 15:8 onde se lê: “O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor, mas a oração dos rectos é-lhe agradável”. O primeiro Tefillat Yesharim apareceu em 1740, em Amesterdão, por ação do rabino David Bem Raphael Meldola, que publicou um livro de orações, de acordo com o rito sefardita da comunidade judaico-portuguesa daquela cidade, a que deu este nome. Reuniu ali todas as orações que considerou necessárias para um bom judeu poder cumprir as suas obrigações e ritos de devoção e adoração. Desde então, a obra tem servido de modelo para muitos livros de orações quotidianas do rito sefardita em todo o mundo.
Esta versão, pertencente à Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Angra do Heroísmo, integra orações originais de Mimon Abohbot, sendo um dos cinco manuscritos conhecidos da sua autoria. Até 21 de fevereiro, pode ser apreciado na Reserva de Transportes de Tração Animal, no âmbito da exposição “Coleções e Museus: da Curiosidade ao Conhecimento”.
Texto | Ana Almeida / Vítor do Castelo
