Contador

Pode dizer-se que com os Descobrimentos começou a globalização e a beleza que resulta da combinação de vivências e saberes de diferentes civilizações é bem visível em peças como este contador que hoje destacamos.
O contador é um móvel essencialmente seiscentista, usado para guardar documentos e valores e cuja qualidade artística refletia o estatuto social do possuidor.
Deriva do escritório de quinhentos, mas distingue-se deste por apresentar as gavetas providas de fechadura à vista e não cobertas por um tampo que, no caso daquele, servia de apoio à escrita.
Este magnífico exemplar, que integra a Coleção de Artes Decorativas e Ornamentais / Mobiliário do Museu de Angra do Heroísmo, inspira-se nos protótipos portugueses levados para Goa e aí copiados, embora a decoração e a técnica se filiem na produção mogol.
Trata-se de um móvel de dois corpos, o contador propriamente dito e o armário de suporte. As gavetas dispostas na frente da caixa criam a ilusão de todas serem de igual dimensão, embora tal não aconteça.
Moghul ou Mughal é o termo usado para designar a dinastia fundada por Babur (chefe guerreiro vindo da Ásia central) que, ao conquistar o sultanato de Deli, em 1526, estabeleceu um império muçulmano na Índia durante mais de três séculos. De entre os imperadores moghul, destaca-se Jalaludim Maomé Akbar (1556-1605), também conhecido como Akbar, o Grande ou Acbar, que conseguiu reforçar a sua posição no norte da Índia, garantindo estabilidade económica e reunindo nas oficinas imperiais a elite dos artistas das várias regiões do império, o que levou à produção de obras que refletiam diferentes fontes de inspiração. A esse contexto viria a acrescentar-se a marcante influência dos missionários portugueses. Da fusão de todos esses contributos, resultou uma expressão artística com identidade própria, requintada e minuciosa, com características muito específicas que se espelha neste esplêndido contador.