Mesa

“Índio” é um termo genérico que se refere às populações nativas do continente americano e que deriva do equívoco geográfico de Cristóvão Colombo que, ao descobrir as Bahamas em 1492, julgou ter chegado à Índia. É também uma designação comummente aplicada a um grande número de grupos étnicos que habitam o Brasil desde há milénios, antes da sua descoberta pelos portugueses a 22 de abril de 1500 e cujas idiossincrasias continuam ainda a ser muito pouco conhecidas.
Pedro Vaz de Caminha, na “Carta do Achamento do Brasil”, é o primeiro a dar conta do seu deslumbramento face aos nativos da então chamada “Terra de Vera Cruz”: “Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal (…) e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.“
Quase em simultâneo (1501-1506), Vasco Fernandes inclui na sua “Adoração dos Magos” a primeira figuração conhecida de um ameríndio no Ocidente, apresentando o rei mouro Baltazar como um índio da tribo tupinambá coroado de penas.
O “Atlas Miller” (1519), uma compilação de trabalhos dos cartógrafos Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel, com ilustrações do miniaturista António de Holanda, apresenta já um mapa da “Terra Brasilis”, em que se vêem representações de indígenas com exuberantes atavios coloridos e emplumados.
Desse fascínio pela diferença e pelo exotismo inerente aos adornos dos “índios”, é também testemunha esta esplêndida mesa que hoje destacamos e que se encontra patente na exposição”Do Mar e da Terra… uma histórica no Atlântico”. As figuras que a ornamentam lembram uma peça escultórica muito cara aos angrenses, o “preto” do Jardim Duque da Terceira, antiga cerca do Convento de São Francisco, que, apesar de exibir caraterísticas fenotípicas africanas, enverga um cocar e uma tanga, sendo portador de uma zarabatana, tubo oco usado pelos povos da Amazónia para caçar, dado que permitia soprar uma seta impregnada em curare, um composto obtido a partir do cozimento de plantas ou de secreções de animais, que provocava paralisia muscular.