Edifício de São Francisco

A Igreja de Nossa Senhora da Guia, anexa ao Edifício de São Francisco, é um exemplo daquilo a que George Kubler chamou de estilo chão (plain style), estilo arquitetónico português marcado pela austeridade das formas.
Ergue-se sensivelmente no mesmo local de uma pequena capela mandada construir, ainda no século XV, com o mesmo orago, pelo capitão Afonso Gonçalves de Antona Baldaia, um dos primeiros povoadores da Ilha junto à sua moradia. Lugar-tenente de Álvaro Martins Homem, acompanha-o quando este toma pose da Capitania da Praia, em 1474, doando a casa aos primeiros frades franciscanos que para aqui vieram, tendo a capela passado a servir como igreja conventual.
Na carta de J.H. Van Linschoten, figura já uma edificação remodelada e acrescentada no século XVI, que alguns vestígios arqueológicos encontrados nos alicerces e em outras estruturas do atual edifício permitem concluir ter características manuelinas.
Edificado entre 1666 e 1672, o templo, agora existente, tem três naves: a central, que termina na capela-mor; a do lado do evangelho, que termina na porta de acesso à antessacristia; e a do lado da epístola, que conduz à capela atualmente denominada da Ordem Terceira e que primitivamente foi da “mercearia” instituída por André Gomes, em 1522.
Na sacristia, aberta ao público em 2018, depois de obras restauro efetuadas por técnicos afetos à Divisão do Património Material e Imaterial e Arqueológico da Direção Regional da Cultura, há a salientar, além de um teto de caixotão em talha dourada e policromada, centrado com as armas de São Francisco, um magnífico arcaz de madeira de jacarandá, atribuído a Mestre Manoel de Almeyda (c. 1745), onde se apresenta um crucifixo com um cristo em marfim de origem indo-portuguesa e quatro braços-relicários. Destaque ainda para um fontanário, datado de 1722, com trabalho de alto relevo em pedra, flanqueado por colunas salomónicas.
Sobre a galilé e parte da nave central, encontra-se o coro alto, cujas paredes estão revestidas, acima do cadeiral, por um rico apainelamento de azulejos da primeira metade do século XVIII, sendo a composição dos respetivos desenhos constituída por elementos da hagiografia franciscana de fabrico de oficina lisboeta.
Junto ao coro, encontra-se um órgão, datado de 1788 e com o n.º 22, o mais antigo existente nos Açores da autoria de António Xavier Machado Cerveira, um dos maiores mestres organeiros portugueses.

Residência Gustaaf van Manen
De referir que o Museu de Angra do Heroísmo acolhe, no âmbito do ciclo musical Domingos com Música, a residência artística do organista holandês Gustaaf van Manen.

Esta parceria permite aos visitantes conhecerem a magnífica sonoridade deste órgão histórico.