Edificio de São Francisco,Sala do Capítulo
Estudar a estética da floresta das nuvens dos Açores foi o meu desafio nos últimos anos. Durante esse tempo facilmente percebi que não existe estética na natureza, é só filosoficamente iminente. A visão desalinhada das florestas luxuriantes afinal é exigente, complexa e por vezes indecifrável, mas com gramática. Os verbos vêm sendo ordenados ao longo de milhões de anos, da evolução da vida. Portanto, nunca foi minha intenção inventar a forma como vemos a natureza. Deixo ficar apenas uma coleção de esboços feitos a partir da luz vinda do céu e dos nevoeiros vindos do mar. Vamos perguntando, a quem mais sabe, o que nos oferece esta verdadeira estufa da evolução que vai convocando todos os nomes: floresta das nuvens, floresta húmida, floresta dos nevoeiros, floresta enevoada, floresta epífita, floresta ensombrada, floresta nublada, floresta luxuriante, floresta virgem, floresta original, floresta impenetrável, floresta laurissilva, floresta pristina, matos e até monda que não serve para nada. A mim apetece-me apenas imaginar que palavras utilizaria o poeta Emanuel Félix, um dos meus preferidos, quando sentisse os silêncios, os cheiros, as águas e a paz destes santuários de vida: Deixem Nosso Senhor passear sossegado pelas árvores antiquíssimas da inefável floresta das nuvens vindas do mar. Pode ser que ao invocar Deus deixem a natureza em paz…
Paulo Henrique Silva,
ateu e conservacionista
Arquipélago dos Açores,
dezembro de 2022 [email protected]