Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima
As barricas de madeira, embora tivessem sido usadas, até aos meados do século XIX, para guardar a pólvora de artilharia, geralmente de granulagem mais grossa, apresentavam vários problemas. A madeira era porosa e facilmente absorvia humidade, sobretudo quando transportada a bordo, degradando a pólvora. Este problema era particularmente notório no caso da pólvora fina, usada nos ouvidos das bocas de fogo, que era inflamada pelo artilheiro e produzia a inflamação da pólvora dentro dos canos dos canhões. Na Carreira das Índias, uma das soluções para guardar esta pólvora fina, da qual dependia a boa ignição das bocas de fogo, era o uso de frascos de cerâmica, de pequenas dimensões, mais eficazes do que os pequenos barris em madeira.
Eram reforçados com guarnições e tampas de ferro e suspensos por um gancho, de modo a que não rolassem com o balanço do navio nem pousassem em zonas molhadas, podendo ainda receber revestimentos em sisal ou couro entrançado para não entrechocarem entre si. Este exemplar, em cerâmica grossa, feldspática, próxima do grés, cozida em alto-fogo (+1200ºC), pela sua forma de ombro pronunciado e fundo côncavo é identificável com a produção chinesa da província de Guangdong. Está guarnecido com as estruturas de reforço, tampa e gancho de suspensão em ferro, com decorações simples em latão, características da região de Kerala, no Sul da Costa do Malabar, na Índia. Estes frascos de pólvora têm sido encontrados, muitas vezes já sem os reforços de ferro, em despojos de alguns naufrágios reconhecidamente da Carreira das Índias, sendo o seu uso datável entre os séculos XVI e XVIII.