Avião perturba culto do Espírito Santo

Segundo Emanuel Félix `O culto paracletiano e a Festa dos Imperadores terão acompanhado, com os primeiros povoadores, o progresso da fixação franciscana primeiro na Madeira e depois no Açores, onde renasceram os Impérios que, tal como as antigas confrarias do Norte da Europa, dispunham das suas “maisons du Saints Esprit” e de um celeiro ou despensa para guardar as oferendas do pão, do vinho e de outros alimentos naturais’.
Nesta obra de Carlos Carreiro, pertencente à Unidade de Gestão de Belas Artes do MAH e atualmente exposta na antessacristia da Igreja de Nossa Senhora da Guia, um dos mais icónicos Impérios da Ilha Terceira é transportado por um casal vestido festivamente, constituindo uma eventual representação simbólica da forte devoção popular ao culto do Divino e da expansão deste por via da emigração.
A possível dimensão etnográfica do quadro é, no entanto, absolutamente subvertida pela jocosa transformação de uma moradia de Angra do Heroísmo numa casinha de papel e pela introdução inusitada do avião militar americano, que criam uma situação humorística muito próxima da sátira social.
Carlos Carreiro, pintor açoriano, nascido em Ponta Delgada, em 1946, foi considerado pelo crítico de arte Fernando Pernes o “Jeronimus Bosh na sociedade de consumo”, dada a sua técnica de figuração narrativa caracterizada pela mescla de objetos e personagens que surpreendem pela incoerência de escala em que são representados.

Texto: Ana Lúcia Almeida