Edificio de Sao Francisco

Do Mar e da Terra … uma história no Atlântico 

Este espaço assume-se como a principal narrativa expositiva do Museu de Angra do Heroísmo. Desenvolvendo-se ao longo de quatro momentos, que vão da descoberta e povoamento das ilhas até à contemporaneidade da Região, pretende aprofundar a cultura e história da Ilha Terceira e dos Açores, através das peças mais significativas e de maior valor da instituição.

O projeto expositivo parte do papel geoestratégico do arquipélago e articula-se com os planos suprarregionais do País e do Mundo, de forma a abranger outras dimensões tidas como fundamentais para a compreensão da totalidade histórica e cultural desta ilha.

Destacam-se quatro momentos expositivos:

No início do século XV, o conhecimento do mundo é limitado e fragmentado, sendo a imagem medieval da Terra, baseada numa síntese de elementos bíblicos e greco-latinos, ainda uma realidade.
Portugal – um espaço de cruzamento das civilizações cristã, islâmica e judaica, e um estado independente desde o século XII – começa a reforçar a sua tradição marítima e piscatória e a criar condições para a Expansão Europeia dos séculos XV e XVI, fenómeno de abertura do Mundo e de globalização que vai liderar.
A meados do século XV, já estão descobertas as primeiras sete ilhas dos Açores (1427), iniciando-se o seu povoamento em 1439. As Flores e o Corvo são descobertas em 1452. No arquipélago, desenvolve-se uma economia baseada na cultura de cereais e na criação de gado, aliada ciclicamente a produções orientadas para o mercado: o trigo, o pastel, a laranja e o leite.
A posição geográfica faz dos Açores uma base indispensável para a navegação marítima.

No século XVI, Angra desenvolve-se como centro de apoio e de distribuição dos produtos vindos das carreiras das Índias Orientais e Ocidentais, num quadro de construção de uma economia atlântica.
A riqueza gerada permite à cidade crescer com um plano urbanístico de cariz renascentista, registado pela famosa carta de Jan Huygen Van Linschoten e que ainda hoje a caracteriza.
A importância de Angra e dos Açores, na conjuntura dos séculos XVI/XVII, ficou marcada pela pressão das potências marítimas do Norte e revela-se no empenho de Filipe II em conquistar a Ilha Terceira.


Nos cerca de 100 anos que separam a criação da Capitania Geral do fim das Lutas Liberais, os Açores sofrem mudanças que perduram e alteram profundamente o viver insular.
A criação da Capitania Geral, em 1766, por proposta do Marquês de Pombal, com sede em Angra, corresponde à preocupação de reorganização do regime político-administrativo, atribuindo vastos poderes ao Capitão General.
Por sua vez, o período conturbado das Lutas Liberais (1820-1834), com a instalação na Ilha Terceira da Regência do Reino e a chegada de sucessivas levas de emigrados seus apoiantes, ocasiona violentos confrontos com a população local, pois o meio social e cultural não é propício à adesão aos ideais do Liberalismo.

A vida açoriana não escapa à influência dos grandes acontecimentos dos séculos XIX e XX. Todos os movimentos que tiveram impacto no País e no Mundo têm os seus reflexos nas ilhas.
A realidade social, económica e cultural caracteriza-se pelo predomínio do sector primário, a emigração, o atraso e a persistência dos sistemas e valores tradicionais. Porém, os inventos que marcam a contemporaneidade chegam às ilhas e, a pouco e pouco, mudam o modo de viver insular.
As Ilhas Adjacentes ressurgem para uma nova época com o movimento revolucionário do 25 de Abril de 1974, consagrando-se pela primeira vez, na Constituição, uma verdadeira Autonomia.
A importância estratégica dos Açores, decorrente da sua situação geográfica, torna-se especialmente evidente no século XX, devido aos conflitos mundiais, durante os quais estas ilhas funcionaram de novo como ponto estratégico de controlo do Atlântico.