“Retrato de Senhora”

Em constante mutação, os padrões convencionais de beleza foram, ao longo dos tempos, um fator determinante na valorização social feminina, assumindo, em determinadas épocas, contornos peculiares que implicavam graves riscos para a saúde das mulheres. Neste “Retrato de Senhora” é bem visível a brancura da pele, pontilhada por pequenos sinais falsos, destacando-se as rosetas das faces avivadas a carmim.
Dado que a tez morena era associada à exposição ao sol decorrente da necessidade de trabalhar ao ar livre, o efeito de pele de porcelana, vista como um indicador de refinamento e estatuto social, era obtido através da aplicação do “ceruse veneziano”, muito em voga nos séculos XVII e XVIII, como se pode constatar pelas representações da rainha Elizabeth I. Este peparado era obtido através da combinação de carbonato de chumbo [PbCO3], denominado vulgarmente por alvaiade, com vinagre. A pasta macia era capaz de cobrir as imperfeições cutâneas, mas levava a um progressivo e muitas vezes fatal envenenamento. Os efeitos branqueadores do carbonato de chumbo eram já conhecidos desde a Antiguidade, o que levou a que ficasse conhecido como “pós de Saturno”, dada a associação feita ao tempo entre metais e deuses.
O rosado das faces era, por sua vez, conseguido, recorrendo ao carmim, um corante de cor vermelho vivo extraido das fêmeas de um inseto, a cochonilha (Dactylopius coccus), originário do México, que foi introduzido na Europa pelos espanhóis no século XVI. Atualmente, este corante continua a ser utilizado em larga escala na indústria cosmética e também alimentar.
Os sinais de veludo ou de tafetá negro, geralmente redondos ou em forma de coração, muito úteis para esconder borbulhas inestéticas, eram também usados como um código galante de comunicação.
Este retrato integra da Unidade de gestão de Belas Artes do Museu de Angra do Heroísmo e está patente na sua exposição de longa duração “Do Mar e da Terra… uma história no Atlântico”.